Emagrecer sem largar a rabada: o equilíbrio possível vivido por Rosilene no sertão da Paraíba

Emagrecer sem largar a rabada: o equilíbrio possível vivido por Rosilene no sertão da Paraíba

Rosilene da Conceição tem 48 anos, cinco filhos, um neto sapeca e um fogão à lenha que ela chama de “meu companheiro de batalhas”. No sertão da Paraíba, numa casa de alvenaria assentada no barro quente da zona rural de Cajazeirinhas, ela provou que dá, sim, pra emagrecer e cuidar da saúde sem abrir mão do sabor da rabada com pirão — prato que, segundo ela, é quase um laço de sangue com a avó e a mãe.

Essa é uma daquelas histórias que derrubam mitos e encantam pela verdade simples: a de que o emagrecimento sustentável não tem que ser sinônimo de sofrimento, mas de reequilíbrio. Vem comigo, porque hoje eu, Cláudia Regina dos Santos, te levo pra passear pelo sertão, entender escolhas e, quem sabe, rever suas ideias sobre o que é “comer certo”.

Rabada no prato, leveza na balança

Quando Rosilene decidiu que precisava cuidar da saúde, não foi depois de nenhuma bronca médica nem resultado de exame alarmante. Foi a partir do incômodo silencioso de quem não se reconhecia mais nas roupas, nas fotos e, principalmente, nos pequenos gestos do dia a dia.

“Me pesei na balança da farmácia de ‘seo’ Hélio e tava com 94 quilos. Pensei: ‘Rosilene, se continuar assim, nem pra pegar manga no terreiro tu vai prestar mais’”, conta entre risos. O senso de humor da paraibana é tão afiado quanto sua habilidade de temperar uma carne de segunda e transformá-la em banquete. Mas naquele momento, ela sabia que precisava mudar — e encontrou um jeito com a sua cara, sem radicalismos, sem abrir mão da vida que sempre amou.

Do radicalismo às raízes: o caminho do meio

Rosilene tentou seguir aquelas dietas que circulam nos grupos de WhatsApp: cortou carboidrato, fez jejum, tomou chá de folha “milagreira” que a comadre jurava que secava até pensamento. Resultado? Dor de cabeça, mau humor e saudade da rabada da sexta-feira. “Fiquei azeda. E meu marido dizia: ‘Prefiro uma Rosilene gordinha e contente do que essa versão fina e azeda’”.

Foi a partir dessa constatação (e de uma infeção urinária causada pela desidratação) que ela decidiu buscar um caminho mais sensato. E assim, aos poucos, foi costurando uma rotina baseada em três pilares:

  • Respeito à sua cultura alimentar
  • Redução progressiva de excessos
  • Incorporação de movimento regular e prazeroso

Comendo com prazer e parcimônia

Ao invés de banir a rabada, Rosilene passou a prepará-la de forma mais leve, com menos gordura aparente, retirando o excesso de óleo e optando por cozinhar sem o tradicional “fundinho de bacon” que a mãe usava. “Descobri que o sabor tá no tempero, não na gordura. Cebola, alho e cheiro-verde ainda são meus melhores aliados.”

Ela também começou a dividir seu prato em porções menores, e a incluir saladas fresquinhas — muitas colhidas na própria horta — antes da refeição principal. Isso a ajudou a chegar ao que ela chama de “saciedade sem exagero”.

O corpo mexe, o peso abaixa

“Nunca fui de academia, meu amor. Mas andar por esse sertão, carregar balde d’água e varrer quintal já é mais que muito treino por aí.” Com sua rotina ativa, Rosilene percebeu que o segredo não era “exercitar apenas por obrigação”, mas manter o corpo em movimento com atividades que faziam sentido em sua vida. E aos sábados, ela ainda participa do forró da igreja, onde se diverte e sua como ninguém.

Esses movimentos cotidianos ajudaram a turbinar o metabolismo, algo especialmente importante para mulheres na faixa dos 40 e 50 anos, quando as mudanças hormonais tornam o emagrecimento mais desafiador.

Resultados reais, vida com sabor

Aos poucos e de forma consistente, Rosilene emagreceu 18 quilos ao longo de 14 meses. Hoje, com 76 kg, ela diz que ainda quer perder mais uns 6, mas sem pressa. “Agora sei que não é corrida. É caminhada.” Ela fala disso com os olhos brilhando, enquanto mexe o pirão numa panela de barro.

Além dos números na balança, ela relata melhorias significativas:

  1. Redução da pressão arterial
  2. Mais disposição ao acordar
  3. Alívio das dores nas costas e joelhos
  4. Melhora no sono
  5. Autoestima elevada

O que a história de Rosilene nos ensina

Há alguns aprendizados valiosos no caminho de Rosilene. O primeiro é que ninguém precisa apagar sua cultura alimentar para ser saudável. O grande erro das dietas da moda é propor rupturas drásticas com aquilo que nos constrói afetivamente. “Minha rabada não é só comida, é visita ao passado. Abandonar isso seria perder quem eu sou.”

Segundo, seu processo mostra que equilíbrio é mais eficaz que restrição. Comer bem inclui o prazer e o respeito ao corpo. Essa abordagem é muito mais assertiva e sustentável do que regimes extremistas e punitivos.

E por fim, Rosilene nos ensina a olhar para o próprio contexto. Fonte de renda, rotina, filhos, clima, crenças — tudo isso importa quando pensamos em saúde. O que funciona pra alguém da cidade grande pode não ser aplicável no sertão. E tá tudo certo. A saúde deve ser acessível e personalizada.

Um recado final da Rosilene

Encerramos a entrevista debaixo do alpendre, com o sol tingindo o céu de laranja. Ela me olha, sorri e diz algo que virou lema por aqui:

“Cláudia, diga pras mulheres que lerem essa matéria que ser saudável não é viver de folha, nem virar refém da balança. É caber dentro da sua vida, e não só da calça jeans.”

Rosilene hoje é inspiração na região. Em seu bairro, lidera um grupo de mulheres que trocam receitas, caminhadas e conversas francas sobre autoestima e alimentação. E nas redes sociais — onde a nora criou um perfil para ela — virou “a embaixadora da rabada consciente”.

Em tempos de promessas milagrosas e fórmulas de um corpo perfeito, ouvi-la é como beber um gole de café coado com afeto: forte, simples e cheio de calor humano.

Que tal refletir?

Quantas vezes você já desistiu de cuidar de si mesma porque achou que teria que abrir mão de tudo o que ama? Rosilene mostra que há outros caminhos. Pode não ser o mais rápido. Mas, com certeza, é o mais verdadeiro.

Afinal, como ela diz com sabedoria do sertão: “Não é o que se tira do prato que emagrece a gente. É o que a gente bota na cabeça.”

Publication date:
Author: Cláudia Regina dos Santos
Jornalista investigativa com mais de 20 anos de atuação, especializada em saúde e alimentação. Com estilo empático e engajado, destaca questões sociais e estruturais, especialmente ligadas à população negra e periférica. Usa linguagem próxima e acessível para humanizar dados e estatísticas.

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