‘Meu corpo tem história’: a caminhada de quem emagrece sem pressa e sem pressão

“Meu corpo tem história”: a caminhada de quem emagrece sem pressa e sem pressão

Me disseram uma vez que, se eu quisesse ter saúde, precisava correr contra o tempo. Queimar calorias, contar pontos, passar fome, me encaixar em roupas menores e levantar às 5h da manhã para fazer aeróbico em jejum. Confesso que tentei. Falhei. Me culpei. Mas depois entendi: o problema não era o meu corpo. Era a pressa.

Hoje, escrevo com mais calma. Falo de corpo com ternura. Não sou modelo de revista, não tenho cinturinha fina, mas tenho história. E é sobre isso que quero falar aqui: da jornada de quem escolhe emagrecer respeitando seus próprios ritmos.

O emagrecimento sem pressa começa com uma escuta

Todo corpo fala. O meu, por exemplo, vivia gritando por acolhimento enquanto eu brigava com a balança. Afinal, fomos ensinadas a associar gordura à preguiça, a indisciplina, à falta de valor pessoal. Só que ninguém fala da ansiedade, da rotina desgastante, dos traumas que nos fazem comer escondido ou da exaustão de tentar seguir padrões inalcançáveis todos os dias.

Quando parei de brigar comigo, aprendi a ouvir de verdade o que meu corpo pedia: mais água, mais sono, mais tempo ao ar livre, menos cobrança, mais comida de verdade e menos culpa. Meu emagrecimento começou aí. Sem planilha de Excel. Sem dieta milagrosa. Só escuta.

A balança já não manda em mim

Por muitos anos, meu dia começava e terminava com um número. Sobe na balança. Desce o humor. Qualquer oscilação virava motivo para punição. Hoje, eu nem sei exatamente quantos quilos perdi desde que mudei meu estilo de vida. E, honestamente? Não me importa mais.

O que eu ganhei foi muito maior:

  • Energia para brincar com meus filhos sem perder o fôlego;
  • Confiança para usar roupas que eu evitava;
  • Liberdade para comer sem medo e com consciência;
  • Orgulho do meu próprio ritmo.

Isso não quer dizer que não existem dias difíceis. Existem. Mas hoje eu lido com eles como quem cuida de uma planta: com paciência, luz e uma boa dose de água.

Corpo saudável não tem molde

Você já parou para pensar quantas mulheres vivem uma guerra silenciosa com seus corpos? Em nome de um “ideal”, aceitamos dietas restritivas, procedimentos inseguros e uma voz interna que só sabe nos criticar. Eu mesma vivi isso durante anos. Mas decidi romper o ciclo com a pergunta que mudou tudo: eu estou cuidando de mim ou punindo meu corpo?

Foi quando conheci outras mulheres como eu. Mulheres que emagreceram lentamente, mudando seus hábitos sem abandonar a si mesmas. Algumas começaram pelos alimentos, outras pela saúde mental. Algumas eram mães ocupadas, outras estavam lidando com menopausa. Mas todas tinham um ponto em comum:

Elas escolheram o caminho do respeito ao próprio corpo. Não o emagrecimento que promete 10kg em duas semanas. Mas o que ensina a mastigar devagar, dormir melhor, dizer “não” quando é preciso e “sim” pra vida real.

Não existe plano perfeito. Mas existe constância

Não coloquei metas impossíveis. Fiz o básico, bem feito:

  1. Incluí legumes no almoço e na janta (até aqueles que eu achava sem graça);
  2. Desci dois pontos no açúcar do café;
  3. Comecei caminhando 10 minutos por dia — hoje faço 40 com vontade;
  4. Parei de me comparar com quem vive de postar corpo na internet;
  5. Aprendi a cozinhar receitas simples e gostosas;
  6. E fui aprendendo, dia após dia, a me gostar no processo, não só no resultado.

Esse é o tipo de emagrecimento que dá trabalho? Dá. Mas também dá paz. Você dorme em paz, você come em paz, você vive em paz com suas escolhas.

A sutileza de enxergar resultados que não cabem na roupinha P

Outro dia, fui a uma loja e experimentei uma calça. A vendedora sorriu e disse: “Parabéns! Entrou no número 42.” E eu também sorri, mas não pelo número. Sorri porque, ali dentro do provador, lembrei do tanto que caminhei até me olhar com carinho.

Não era sobre o 44, o 42 ou o 40. Era sobre ter deixado o autojulgamento de lado e ter ganhado força emocional, paz de espírito e autonomia. Era sobre minhas caminhadas ouvindo música, minhas idas à feira com prazer, meu feijão com couve, minhas noites de sono regular.

Essas são as medidas que realmente importam, embora nenhuma balança saiba pesar.

Emagrecer respeitando seu tempo é também um ato político

Sim, existe beleza no emagrecimento consciente. E existe potência em dizer: eu escolho cuidar de mim do meu jeito. Em plena era da performance corporal, permitir-se ser humana, imperfeita e em construção é revolucionário.

É também um jeito de mostrar para nossas filhas, sobrinhas, amigas e colegas que o corpo é morada, não prisão. Que a saúde pode — e deve — andar junto com o afeto, com o autoconhecimento e com a autonomia.

Se você está nessa jornada, te digo: siga. Um passo por vez. Um hábito por semana. Uma escolha de cada vez. Não existe pressa quando o caminho é o amor próprio. A beleza não está no antes e depois de uma foto, mas no durante.

Palavras finais de quem respeitou os próprios passos

Hoje, olho no espelho e vejo o reflexo de uma mulher mais leve, e isso não tem nada a ver com gordura corporal. Estou mais leve de culpas, de cobranças, de dietas absurdas e da pressão social.

O meu corpo é testemunha da minha história. Ele não precisa caber em regras, roupas ou padrões. Só precisa continuar sendo casa. Viva, sentida e cuidada.

Se puder deixar uma mensagem, é essa: não corra contra seu corpo. Caminhe com ele. Ele sabe o caminho.

Publication date:
Author: Cláudia Regina dos Santos
Jornalista investigativa com mais de 20 anos de atuação, especializada em saúde e alimentação. Com estilo empático e engajado, destaca questões sociais e estruturais, especialmente ligadas à população negra e periférica. Usa linguagem próxima e acessível para humanizar dados e estatísticas.

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