Como erguer autoestima quando o espelho só mostra cansaço? A jornada de Rita nos bastidores da vida real
Como erguer a autoestima quando o espelho só mostra cansaço? A jornada de Rita nos bastidores da vida real
O despertador toca às 5h30 da manhã. O café é passado às pressas enquanto os olhos, ainda semicerrados, tentam acreditar que mais um dia começa. Rita, 42 anos, não tem luxo de escolher o ritmo: ela vive na cadência frenética de quem acumula trabalho, filhos, contas e expectativas. Muitas expectativas. E muito pouco tempo para si.
Mas não se engane. Essa não é uma história triste. Essa é uma história real. Uma daquelas que poderiam ser a sua, a minha, a da vizinha da porta ao lado. Porque o cansaço que Rita via no espelho é o mesmo que tantas sentem, mas não nomeiam. E é justamente aí onde a virada começa: quando a gente se enxerga com clareza, começa a se cuidar com verdade.
Quem é Rita, por detrás das olheiras?
Rita é professora de escola pública na zona leste de São Paulo. Mãe de dois adolescentes, coordenadora pedagógica voluntária em um projeto social no bairro e — pasmem — ainda tenta conciliar os estudos de uma segunda graduação em Psicologia. “É assim… um pouco caótico, mas sempre com coração”, ela diz, com o sorriso sereno de quem aprendeu cedo a fingir que está tudo bem para manter tudo em pé.
Mas o corpo não finge por muito tempo. O dia em que Rita percebeu isso foi também o dia em que começou sua jornada para recuperar a autoestima:
“Eu me olhei no espelho e pensei: quem é essa mulher? Eu não me reconhecia. Não era só aparência — era ausência. Eu tinha desaparecido dentro da rotina.”
O início de uma nova conversa interna
Diferentemente do que muita gente imagina, erguer a autoestima não começa com comprar um batom novo nem com se inscrever na academia. Para Rita, começou com o silêncio. Ela tirou 10 minutos do seu horário de almoço para sentar sozinha num banco de praça. Sem celular, sem livro, sem conversa. E pela primeira vez em muito tempo, ela ouviu sua própria respiração.
Autoestima pede escuta ativa com a gente mesma
Ali, naquele banco, Rita compreendeu algo transformador: autoestima é relação — aquela que temos com a gente mesma. E nenhuma relação sobrevive sem diálogo. A partir dali, ela decidiu começar uma prática simples (mas poderosa): todas as noites, antes de dormir, ela escrevia 3 coisas que tinha feito por si naquele dia, ainda que pequenas:
- Tomar um banho quente com calma
- Negar um favor que extrapolava seus limites
- Dizer não ao brigadeiro por impulso, e sim ao chá porque era o que seu corpo pedia
“Comecei a perceber que eu estava me ouvindo. E esse movimento interno, de respeito, foi me mostrando que eu valia mais do que só dar conta do mundo”.
Transformação sem glamour, com acolhimento
Uma das maiores armadilhas da jornada da autoestima é o mito da transformação glamourosa. Mas a história de Rita desconstrói isso com delicadeza. Sua mudança foi silenciosa, progressiva e cheia de tropeços. “Teve dia que eu comi o pacote inteiro de bolacha sem pensar, chorei no banheiro da escola, xinguei o trânsito todo… Mas ainda assim, fui dormir e escrevi ‘hoje eu segurei as pontas, como deu’“, ela relata.
Sim, autoestima não é performance. É gentileza. É aprender a se acolher do jeito que acolhemos quem amamos. Aos poucos, Rita criou uma rotina de autocuidado que respeitava sua realidade. Nada mirabolante:
- Levantava 10 minutos mais cedo para meditar com áudio guiado
- Tomava chá de camomila à noite, no lugar do café
- Passava um óleo corporal aromático antes de dormir
- Lia literatura leve antes de pegar no sono, em vez de rolar o feed infinito
O emagrecimento como consequência, não como objetivo
A surpresa aconteceu três meses após esse novo pacto com sua própria alma: Rita percebeu que havia perdido 4 kg. Mas ela não estava em dieta. Na verdade, tinha parado de controlar obsessivamente a comida. “Pela primeira vez, eu comia só quando tinha fome, e escolhia o que de fato me nutria – fisicamente e emocionalmente.”
Essa é uma das verdades mais ignoradas no mundo do emagrecimento: o corpo responde melhor quando é amado, não punido. A perda de peso de Rita foi o reflexo de uma nova relação com ela mesma. E não o contrário.
Reflexões finais para quem também se vê cansada no espelho
Hoje, Rita não é uma influenciadora, uma musa fitness ou uma especialista em nutrição. Mas talvez ela seja a especialista mais valiosa: a especialista na sua própria experiência. E por isso, suas lições valem ouro:
- Não espere ter tempo: crie minutos de presença
- Não espere se amar para se cuidar: cuide-se para se amar
- Não compare sua jornada com a de ninguém: ninguém viveu o que você vive
A autoestima de Rita não se ergueu em um fim de semana, nem com uma receita mágica. Foi construída, tijolinho por tijolinho, nos bastidores da vida real — entre uma reunião de pais, uma remarcação de consulta e a coragem de dizer “hoje não dou conta”. E esse tipo de autoestima, minha amiga, não desaparece com o cansaço. Pelo contrário: ela renasce com ele.
Enquanto finalizo este texto, imagino Rita se olhando no espelho agora. Talvez ainda veja olheiras, sim. Mas por trás delas, já não enxerga só o cansaço — vê também força, história e escolha. E isso, por si só, muda tudo.
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