‘Não sou antes e depois. Sou tudo no meio também’: autoestima além do emagrecimento
“Não sou antes e depois. Sou tudo no meio também”: autoestima além do emagrecimento
Quando a gente fala em emagrecimento, parece que todo mundo já quer ver a foto do antes e a do depois. A primeira: uma imagem carregada de olhares julgadores. A segunda: um sorriso estampado, uma roupa justa e uma legenda dizendo “consegui”. Mas e o meio? E tudo aquilo que a gente vive entre a decisão de mudar e o suposto ponto final?
Eu sou Cláudia Regina dos Santos, mulher preta, nordestina, mãe solo de dois, educadora física e acima de tudo: alguém que já passou por esse caminho. Não só passei, como continuo trilhando. Porque a jornada do cuidado com o corpo – e com a cabeça também – não tem linha de chegada. E neste artigo, quero te convidar a olhar com carinho para o seu “durante”, aquele território esquecidinho onde mora a sua verdade, sua força e sua beleza.
O efeito colateral das comparações
Você já se pegou pensando que só vai se amar quando chegar em determinado número na balança? Eu pensava assim. E não fui a única. Todos os dias, mulheres me contam: “meu corpo não é bom o suficiente”, “só vou comprar roupas novas quando emagrecer”, “só vou me permitir usar biquíni quando ‘chegar lá’”.
Mas veja: quando colocamos amor-próprio como consequência de um resultado externo, a gente transfere pro corpo a responsabilidade de resolver questões muito mais profundas. E isso aprisiona.
Porque, adivinha? Sempre que a gente “chega lá”, o “lá” muda. Aquilo que parecia ser a meta vai se afastando, como uma miragem. Você perde peso, mas a pressão muda de roupa: “agora tem que definir”, “agora tem que manter”, “agora tem que tonificar”. E com isso, a autoestima vai ficando eternamente adiada.
O problema do “antes e depois”
As transformações físicas têm seu valor, sim. Mas o culto ao “antes e depois” tira do foco o que realmente importa: o processo. A convivência com o corpo em transformação, com as dúvidas, os deslizes, os acertos, os limites, tudo isso é silenciado. E nessa lógica cruel, você só vale quando já conseguiu. Antes disso? Invisível. Depois de um suposto “fracasso”? Apagada. Isso não é justo, e nem verdadeiro.
Cada célula sua, em qualquer fase do corpo, carrega histórias, superações e identidade. Não é justo reduzir tudo isso a uma calça jeans que entrou ou não.
Autoestima é ação diária, não meramente resultado visual
Vamos parar de romantizar o depois e culpar o antes? Vamos reconhecer que somos também o agora? Autoestima não é presente exclusivo de “quem chegou lá”. Ela é cultivada todos os dias, mesmo naqueles em que a gente acorda sem vontade de levantar da cama.
O que você está fazendo com você?
Olhar no espelho vai além de enxergar um corpo. É reconhecer uma história. Todas as mulheres que eu acompanho nas minhas aulas ou nas redes trazem uma bagagem gigante. Filhas, esposas, profissionais, provedoras, amigas, cuidadoras. Mas quando olham para si, só veem gordura, celulite, estrias, flacidez. Isso é injusto contigo, mulher.
Por isso, eu defendo com unhas e dentes: autoestima é construção de vínculo com quem você é, não com o quanto pesa. É sair do campo da punição (“tô gorda, preciso mudar”) e entrar no campo do respeito (“preciso me tratar melhor, com amor”).
Redefinindo metas, resgatando identidade
Quantas de nós embarcam em dietas, jejum intermitente, exercícios exaustivos não para ganhar saúde, mas para entrar num padrão? E se, antes de qualquer plano alimentar ou ficha de treino, você respondesse essa pergunta: “por que eu quero mudar?”
- Para ser mais aceita?
- Para se punir?
- Para caber em uma expectativa alheia?
- Ou para se sentir melhor nos seus próprios termos?
A resposta define tudo. Mudar por amor é diferente de mudar por medo. Quando a motivação é o autocuidado, e não a autonegação, a jornada se torna mais leve.
Acolha o agora: celebre cada fase
Te desafio, querida leitora, a fazer um novo registro seu. Mas não no estilo dos antes e depois, e sim do “enquanto isso”. Faça uma selfie naquele dia comum, pós-dia de trabalho, de cara lavada. Poste se quiser. Ou guarde. E olhe para essa imagem com os olhos de alguém que se respeita. Que não está se medindo por quilos, e sim por coragem.
Aliás, permita-se se vestir como quiser agora. Compre a roupa nova agora. Vá à praia agora. Porque a vida não está embalada pra presente esperando aprovação da balança. Ela é crua, singela, real. E precisa ser vivida em todas as fases do ser.
Histórias reais existem entre os extremos
Não existe mulher “antes”. Também não existe mulher “depois”. Existe você por inteiro. Entre um número e outro na etiqueta de roupa, entre um palpite e outro que você recebeu, existe a sua potência de quem resistiu.
E, sim, é possível querer emagrecer e ainda assim se amar. O que não dá é continuar se odiando no trajeto para tentar se amar apenas na chegada. Esse pacto a gente precisa romper hoje.
Depoimentos que mostram a força do durante
Leila, 42 anos, professora de química: “Quando aceitei o convite da Claudinha pra começar a caminhar, eu ainda odiava meu corpo. Pensava que ele era um castigo. Hoje, mesmo tendo emagrecido só 4 quilos em vários meses, me olho com mais respeito. Aprendi que o que me pesa mesmo eram as cobranças”.
Denise, 33, empreendedora e mãe de gêmeos: “Nunca achei que conseguiria gostar de mim depois da gravidez. Mas, seguindo esse movimento de pensar no agora, comecei a registrar meus dias normais, com leite derramado na blusa, cara de sono, mas com muito amor. Hoje sou a mulher que eu gostaria que minha filha admirasse”.
Conclusão: Você é a história completa
Reivindique o seu “meio”. Aquele que o feed não mostra, mas onde você levanta mesmo cansada, decide preparar uma comida mais leve mesmo com pouco tempo, celebra pequenas vitórias como caminhar mais uns quarteirões ou conseguir subir as escadas com menos cansaço.
Você é digna de afeto, pertencimento e alegria em qualquer fase. Antes, durante, depois. E principalmente no agora.
Seja a sua melhor companhia no processo. Porque mais importante do que emagrecer é reescrever sua relação com você mesma. E nessa história, o meio é onde mora o verdadeiro milagre.
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