Descontar na comida: como comecei a lidar com fome emocional
Descontar na comida: como comecei a lidar com a fome emocional
Sabe aquele dia que o boleto vence, o chefe surta, o crush visualiza e não responde, e a vida simplesmente resolve dar F2 e reiniciar? Então… Eu costumava responder a isso tudo com um único remédio infalível: comida. Daquela bem gordurosa, doce e exagerada. Se for ruim para a saúde, melhor ainda — porque a fome emocional não quer solução, quer anestesia.
Antes de mais nada, a fome emocional é real. E se para muita gente ela aparece silenciosa, no meu caso ela tocava campainha e vinha logo gritando “me alimenta com pizza, chocolate e refrigerante!”. Só que depois passava a euforia, e com ela vinham a culpa, o inchaço e algumas dezenas de porquês circulando na cabeça.
Então vamos conversar. Sem dieta maluca, sem julgamento. Aqui é Rafael, e nesse artigo eu vou contar como comecei a lidar com a fome emocional — e como você também pode dar os primeiros passos. Especialmente se, assim como eu, estiver começando do zero.
O que é fome emocional?
A fome emocional não tem nada a ver com o estômago roncando ou com um nariz exalando cheiro de pão na chapa às 7h da manhã. Ela nasce em outro lugar: nas emoções. É o tipo de “fome” que aparece quando você está entediado, estressado, solitário, ou querendo comemorar algo — até sem motivo.
O problema? Diferente da fome física, que passa depois de uma refeição equilibrada, a fome emocional é insaciável. Ela exige quantidades específicas de comida específica: aquele doce exato da infância, ou o hambúrguer da lanchonete da esquina. Não tem a ver com nutrição, mas com alívio imediato.
Como identifiquei que não era “só fome”
Eu comecei a perceber padrões. Três momentos chave em que eu atacava a geladeira:
- Depois de um dia tenso de trabalho
- Quando sentia que algo na minha vida estava travado
- Logo após uma notícia ruim ou frustração
E aí veio o estalo: não era fome física… era um buraco emocional mesmo. E eu estava tentando preencher com comida. Sem sucesso, claro.
As consequências que quase ninguém fala
Comer por emoção pode até parecer inofensivo nos primeiros episódios, mas quando vira rotina, o bicho pega:
- Ganhar peso sem perceber, mesmo tentando “controlar” a alimentação depois
- Sentimento de culpa constante, que bagunça a autoestima
- Dependência emocional da comida como válvula de escape
- Ciclos de restrição e compulsão: hoje corto tudo, amanhã como o dobro
Arrisco dizer que o peso na consciência doía mais que o no corpo. Não raro, eu me sentia fraco, fracassado. E, veja bem, eu só estava… tentando sobreviver do jeito que dava.
Como comecei a sair desse ciclo
Importante reforçar: não existe pílula mágica. O processo foi devagar, cheio de tropeços e, honestamente, com muito autoabraço. Mas eu fui encontrando meu caminho — e quero compartilhar. Abaixo, os passos que fizeram diferença para mim:
1. Identificar o gatilho, não o alimento
Antes de pensar “por que comi tanto chocolate de novo?”, comecei a perguntar “o que me levou a buscar o chocolate?”. Era ansiedade? Vontade de chorar e esconder? Falta de alguém para conversar? Essa mudança de pergunta fez mágica.
2. Nutrir além do prato
Eu passei a incluir atividades que preenchessem a parte emocional da equação:
- Meditação de 10 minutos, mesmo que mentalmente eu estivesse pedindo pizza
- Caminhadas curtas, respirando fundo, sem fone de ouvido
- Conversas reais com pessoas que não julgassem (valeu, terapia!)
Descobri uma coisa simples que deveria vir nos rótulos dos alimentos: autocuidado também nutre.
3. Estabelecer acordos, não punições
“Nunca mais vou tomar refrigerante” durava duas horas. Em vez disso, mudei as regras:
- Sim, eu posso querer doces — e tudo bem querer sentir prazer
- Mas vou observar o porquê quero e escolher conscientemente
Assim, reforcei uma relação de autonomia e não de castigo.
4. Procurar ajuda especializada
Esse foi um divisor de águas. A fome emocional tem raízes profundas e técnicas específicas. Eu busquei um nutricionista com abordagem comportamental, e um psicólogo com foco em regulação emocional. Foi aí que a culpa começou a dar lugar à compaixão.
Resultados reais (e nada “antes e depois” no Instagram)
Se você espera uma história onde “perdi 10kg em 2 meses”, pode procurar outro artigo. Aqui não teve transformação mágica. O que teve foi:
- Menos episódios de compulsão, porque agora eu reconheço os sinais antes
- Mais autoestima, porque parei de me punir por estar sobrecarregado
- Relação mais leve com a comida: voltei a gostar de cozinhar, de escolher o que comer
Conhecer o próprio corpo e mente não tem antes e depois — tem durante. E isso, meu amigo, é liberdade.
Se você também quer começar do zero…
Não espere um dia “perfeito” para isso. Começar do zero não é fracasso, é reinício — e cada reinício traz mais maturidade. Aqui vão três práticas simples que podem te ajudar a dar os primeiros passos:
- Crie um diário da fome emocional: anote quando e por que sente vontade de comer emocionalmente
- Tenha alternativas visuais por perto: post-its com lembretes como “beba água”, “tire um ar”, “converse com alguém”
- Cometa erros sem culpa: recaídas não são sinais de fraqueza — são parte do caminho
Conclusão
Se eu pudesse voltar ao início, me diria uma coisa: você não está comendo demais por falta de força de vontade, mas por excesso de dor não resolvida. Comer não é o problema; é o sintoma. Se você está descontando na comida, está tudo certo. A boa notícia? Dá para aprender outros jeitos de cuidar de você.
E, no final das contas, é isso que importa: cuidar de você de forma que dure. Sem dietas malucas, sem drama, sem culpa.
Com carinho (e um pouquinho de humor),
Rafael Lima Costa
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