O problema não é a comida: é a pressa em emagrecer sem se ouvir

O problema não é a comida: é a pressa em emagrecer sem se ouvir

Vamos começar com uma perguntinha direta? Quantas vezes você já prometeu pra si mesma que “na segunda-feira tudo muda”? E aí, no domingo à noite, você faz um tour gastronômico de despedida, como se nunca mais fosse ver um pedaço de pizza, um brigadeiro ou uma taça de vinho? Pois é, bem-vinda ao clube da urgência ansiosa — onde o emagrecimento precisa vir rápido, a qualquer custo, e sem qualquer escuta verdadeira do seu corpo.

Mas deixa eu contar uma verdade que talvez você ainda não tenha ouvido (ou se ouviu, ignorou rapidinho): o problema não está na comida. Está na sua pressa, na sua fuga do espelho, na tentativa frenética de caber num padrão sem ter cabimento nem nela mesma.

Por que a pressa em emagrecer virou padrão?

A cultura da dieta nos ensinou que emagrecer é um processo urgente. A cada esquina, tem uma promessa de “perca 5kg em uma semana”, como se nosso corpo fosse um aplicativo que bastaria atualizar pra estar rodando direitinho. Acontece que nosso corpo não é um programa de software. É um organismo vivo, complexo, que carrega emoções, histórias e, claro, comida.

Comer é mais do que ingerir calorias. Comer é afeto, memória, tradição. Mas quando o emagrecimento se torna uma corrida, toda essa dimensão é atropelada com o slogan da vez.

Você está comendo ou seguindo ordens?

Já parou para perceber quantas decisões alimentares você toma baseada em regras que nem lembra de onde vieram?

  • “Carboidrato à noite engorda”
  • “Fruta tem muito açúcar”
  • “Jejum é mais eficiente”
  • “Gordura boa pode, gordura ruim não”

Se essas regras fossem tão infalíveis assim, o mundo estaria cheio de pessoas magras, saudáveis e felizes. Mas seguimos perdidas em meio a informações desencontradas, desconectadas do nosso corpo e com uma culpa enorme a cada garfada que foge da bula da “alimentação ideal”.

O corpo pede escuta, não punição

Uma das coisas mais poderosas que aprendi em todos os anos de estudo e prática com a alimentação consciente é que você não precisa lutar contra seu corpo para emagrecer. Na verdade, é ao se alinhar com ele que as mudanças reais acontecem.

Escutar o corpo é perguntar-se:

  1. “Estou com fome ou com tédio?”
  2. “Essa comida me satisfaz ou só me distrai?”
  3. “Me sinto bem depois de comer ou pesadez virou padrão?”
  4. “Como com presença ou no piloto automático?”

E antes que alguém pergunte: isso não tem nada a ver com restrição. Tem a ver com reconexão. É um convite a sair do ciclo de autoagressão para entrar no ciclo de autocuidado.

Comida de verdade, com consciência

Eu, Juliana, defendo o que chamo de nutrição gentil: uma forma de se alimentar pautada na comida de verdade, na escuta do corpo e no acolhimento das emoções. Não é só sobre o que você come, mas sobre como você come, por que você come e com que sentimento você se senta à mesa.

Você pode, sim, emagrecer. Mas não precisa fazer isso como se estivesse numa prova de resistência do “Big Brother”. Seu corpo e sua mente merecem paz, não imposição.

Como começar a comer com mais consciência

Não precisa mudar tudo de uma vez. Aliás, esse é um erro comum que só alimenta mais frustração. Em vez disso, proponho pequenos passos conscientes:

  1. Respire antes de comer: pare um instante, observe a comida, agradeça mentalmente. Isso já te coloca no modo presença.
  2. Largue o celular na hora da refeição: reduzir estímulos ajuda a perceber melhor o sabor, a saciedade e o prazer de comer.
  3. Coma devagar: mastigue. Mastigação melhora a digestão e te ajuda a entender quando já é suficiente.
  4. Observe como se sente depois de cada refeição: leveza? peso? sonolência? energia? O corpo fala, mas você precisa ouvir.

Essas práticas geram efeitos acumulativos. Pequenos hábitos criam novas realidades. E não, não tem nada de místico nisso: é neurociência, psicologia alimentar e respeito com o seu ritmo.

Saia do modo missão impossível

Talvez você tenha sido condicionada a achar que emagrecer é uma questão de disciplina e força de vontade. Mas deixa eu te oferecer uma nova perspectiva: e se for, na verdade, um processo de reconhecimento e reconexão?

A comida não é sua inimiga. O que te sabota é a urgência, a comparação com os outros e o desejo de resolver tudo no próximo desafio de 21 dias. Tudo isso só te afasta do que você realmente precisa: tempo, escuta, consistência e compaixão.

Você merece leveza — e não só de peso

Emagrecer pode e deve ser um caminho de autoconhecimento e cura. Não um projeto de verão que termina em culpa e rebote. A comida de verdade é sua aliada. E a consciência, seu maior guia.

Então, da próxima vez que pensar em começar mais uma dieta radical, respire. Pergunte ao seu corpo o que ele precisa. Respeite sua fome, acolha sua saciedade e cuide da sua história com carinho.

Porque, no fim das contas, não é sobre o corpo que você quer ter. É sobre a relação que você quer cultivar com você mesma.

Conclusão

Ao desacelerar e abrir espaço para a escuta interna, o emagrecimento vira apenas um dos muitos reflexos positivos — e não o único objetivo. Se o problema não é a comida, mas sim a pressa e a desconexão, é hora de fazer as pazes. Com o prato, com o espelho e com seu próprio tempo.

E lembre-se: é possível emagrecer comendo bem, comendo com prazer e, acima de tudo, com respeito à sua realidade. Sem pressa. Sem culpa. Mas com muita consciência.

Com carinho e comida de verdade,

Juliana Rocha Alves

Publication date:
Author: Juliana Rocha Alves
Nutricionista dedicada à reeducação alimentar no contexto nordestino. Com experiência pessoal e profissional em emagrecimento, orienta mulheres a criarem rotinas saudáveis sem abandonar tradições culturais. Atua com educação alimentar e inclusão social em comunidades carentes.

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