Docinho nas festas: dá pra aceitar sem sabotagem?

Docinho nas festas: dá pra aceitar sem sabotagem?

Ah, o bendito docinho! Brigadeiro, beijinho, cajuzinho… Só de pensar, já bate aquele suspiro nostálgico de infância e alegria. Mas aí vem aquela festa — de aniversário, casamento, batizado ou simplesmente um encontrinho da firma — e você, toda engajada na sua jornada de emagrecimento consciente, se vê em um dilema interno quase filosófico: “Se eu comer um brigadeiro, vou estar me sabotando?”.

Calma. Respira. Vamos colocar os pingos nos is e açúcar só no que vale a pena. Meu nome é Juliana Rocha Alves, eu sou nutricionista de formação, cozinheira de coração e entusiasta da comida de verdade com consciência. E hoje estou aqui para te mostrar que é possível curtir uma festa — e até o docinho — sem transformar isso em sabotagem.

O que é sabotagem, afinal?

Muita gente acha que se sabotar é comer algo “fora da dieta”. Mas, olha, esse conceito está mais ultrapassado que manjar de ameixa em festa infantil. Vamos atualizar isso juntos?

Sabotagem é quando você toma uma decisão que não está alinhada com o que você quer de verdade. E isso vale tanto para comer 10 docinhos escondida quanto para recusar um com vontade só porque “não pode”.

Sabotagem tem mais a ver com ruptura de propósito do que com quantidade de calorias. Quando você come movida pela culpa, pela ansiedade ou pela ideia de que “já que enfiei o pé na jaca, agora vai”, aí sim estamos falando de sabotagem.

Mas decidir, com consciência e presença, saborear aquele docinho tradicional da sua avó durante a festa da família? Ah, isso não é sabotagem. Isso é conexão. E comer com conexão é também um ato de saúde.

Comida de festa é sempre vilã?

De forma alguma! O problema nunca foi a comida que aparece nas festas, mas o nosso tipo de relação com ela.

Vamos combinar uma coisa? Doces de festa não aparecem todo dia no seu cardápio. Eles são parte de momentos especiais, celebratórios. E celebrar vínculos, pessoas e conquistas também faz parte de um estilo de vida saudável.

O que desequilibra não é o que acontece de vez em quando, mas o que se repete dia após dia sem atenção. Então aquela fatia de bolo na festa da amiga ou os dois brigadeiros depois do parabéns não definem sua saúde nem seu emagrecimento de forma isolada.

Mas e se eu perder o controle?

A pergunta aqui não é sobre comida, e sim sobre autoconhecimento. Sabe aquela história de “só mais um”, que termina em “me arrependi de tudo”? Não é o docinho que causa isso, mas sim uma mente que foi treinada pra restrição e culpa.

Comer com consciência é dar voz à sua fome real e também ao seu prazer. E é totalmente possível praticar isso nas festas. Como? Te conto agora.

Como incluir o docinho na festa sem sair do prumo

1. Vá alimentada

Essa é clássica, mas continua sendo ouro. Chegar esfomeada numa festa é convite pra exagero. Coma uma refeição leve e nutritiva antes, com legumes, proteínas e gorduras boas. Isso evita que você ataque a mesa como se fosse a última ceia.

2. Observe antes de escolher

Não se jogue na primeira bandeja com brigadeiro. Dê uma volta, veja o que tem disponível. Olhe, pergunte, espere o parabéns. Escolher com calma é parte do autocuidado.

3. Coma com os cinco sentidos

Saboreie como se fosse uma experiência. Textura, cor, cheiro, som. O crocante da casquinha, o contraste do recheio. Quando a gente presta atenção, descobre que dois docinhos são o suficiente.

4. Respeite sua saciedade

Sim, prazer e saciedade coexistem. Se você já sentiu aquele “ufa, foi bom”, talvez seja a hora de parar. Não precisa repetir por impulso, nem “só porque sobrou”. Lembre-se: não é a última festa do mundo.

5. Avalie o contexto emocional

Está comendo pelo prazer do momento ou tentando anestesiar algum desconforto? Comer consciente envolve reconhecer também se você está triste, ansiosa ou tentando “preencher algum buraco”. E tudo bem perceber isso. O importante é aprender a se acolher, não se julgar.

Mas e se eu quiser recusar? Tá tudo bem também!

Gentileza é diferente de obrigação. Se você sente que recusar um doce específico te faz mais feliz, recuse com leveza, não com peso. O “não, obrigada” educado ainda funciona, tá bom?

Você não precisa comer todas as opções para honrar a festa. E não precisa seguir a multidão pra ser bem-vinda. Sua escolha pessoal tem valor — e isso também é autonomia alimentar.

Docinho pode ser parte da sua estratégia de emagrecimento, sabia?

Sim, você leu certo. Inclusão é melhor que exclusão. Quando você permite o seu cérebro saber que brigadeiros não são proibidos, algo mágico acontece: você tira o poder da comida sobre suas escolhas.

Esse é um conceito que trabalhamos muito na proposta de alimentação consciente e sustentável. O emagrecimento duradouro precisa ter espaço para a vida real, e a vida real inclui festas, afetos, sabores e sim, doces!

Uma reeducação que inclui prazer

Na editoria Comida de Verdade com Consciência, a gente defende que comer bem é comer com sentido. E sentido inclui o que nutre o corpo e também o que aquece o coração. Não existe “dia do lixo”, porque nenhum alimento deveria carregar culpa.

Você pode aprender que comer doce não destrói resultados, se acompanhado de responsabilidade e consciência. É totalmente possível estar em uma jornada de perda de peso e ainda assim se permitir os prazeres da vida — na medida que cabe, com escolhas que você sustenta com alegria, não com auto flagelo.

Conclusão: culpar-se, pra quê?

Ninguém emagrece à força. E se for à força, não dura. A verdadeira transformação vem da reconexão com o corpo, com os sentimentos e com o prazer de comer. Sim, comer deve continuar sendo uma fonte de prazer. A diferença é que agora você aprende a fazer isso sem perder o eixo.

Então, na próxima festa, se quiser um docinho, coma com orgulho. E se não quiser, passe reto com alegria. Porque no fim das contas, quem manda no seu prato — e no seu processo — é você.

Te vejo no próximo artigo, com mais papos leves e densos (simultaneamente, como um bom mousse de chocolate 70% feito em casa). Até lá!

Publication date:
Author: Juliana Rocha Alves
Nutricionista dedicada à reeducação alimentar no contexto nordestino. Com experiência pessoal e profissional em emagrecimento, orienta mulheres a criarem rotinas saudáveis sem abandonar tradições culturais. Atua com educação alimentar e inclusão social em comunidades carentes.

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