Chega de silenciar o corpo gordo: a revolução afetiva de quem decide cuidar da saúde fora do padrão
Chega de silenciar o corpo gordo: a revolução afetiva de quem decide cuidar da saúde fora do padrão
Eu sou Cláudia Regina dos Santos, jornalista, preta, gorda e absolutamente apaixonada por gente. Sim, por gente com dobrinha, cicatriz, sonho e medo. E hoje quero contar uma história que não é exatamente só minha, mas que passa por mim – e talvez por você também – todos os dias.
Este é um convite para refletirmos sobre corpos que aprendemos a esconder, a justificar, a reparar. Mas também sobre corpos que escolhem amar, cuidar e ocupar espaço com dignidade – mesmo (e sobretudo) quando fogem do tal “padrão saudável” que tanto nos ensinaram como verdade imutável.
O silêncio que pesa mais que a balança
Já percebeu como a ideia de saúde virou sinônimo de magreza? Como se um IMC abaixo de 25 automaticamente garantisse um coração feliz, um rim brilhando e uma autoestima de dar inveja à Beyoncé. Só que não é bem assim. E quem vive num corpo maior sabe: o problema quase nunca é o peso do corpo, mas o peso do julgamento.
Quando falamos de pessoas gordas cuidando da própria saúde, a resposta padrão costuma vir em tom de deboche:
- “Ah, mas isso não é saúde!”
- “Você tá promovendo obesidade?”
- “Se ama tanto assim, por que não emagrece logo?”
Mas e se eu te dissesse que saúde não mora só na balança, e que bem-estar vai muito além da fita métrica?
Essa é a história real de muitas pessoas que, como eu, decidiram fazer as pazes com os próprios corpos antes de qualquer transformação física – e isso, minha querida, é uma revolução afetiva.
Virando a chave: quando o cuidado vem do amor, não da culpa
A Fernanda, 37 anos, assistente social e mãe solo de dois, me contou que passou mais de duas décadas brigando com o espelho e com a comida. Frases como “você tem um rosto tão bonito” eram seguidas de dietas restritivas, jejuns malucos e – claro – crises de culpa sempre que o brigadeiro vencia a batalha no fim do domingo.
Até que um dia, ela me disse, resolveu trocar o ódio por escuta. Procurou uma nutricionista que não a pesava a cada consulta. Passou a movimentar o corpo com prazer, e não com castigo. Substituiu o “preciso emagrecer” por “quero viver melhor”.
O peso mudou? Um pouco. Mas o principal foi o leve que veio de dentro. A libertação de entender que existe saúde em múltiplos formatos e que o corpo gordo não é um projeto inacabado de corpo magro – ele é um corpo por inteiro, com história, potência e direito a existir sem antes pedir desculpas.
Saúde é construção, não punição
Quem me lê sabe: eu não sou contra o emagrecimento. Sou contra o sofrimento como única estrada até lá. Porque tem gente que emagrece e floresce, e também tem gente que emagrece e se afunda. A diferença? A forma como essa jornada foi construída.
Autocrítica é diferente de autoagressão. Cuidar de si é diferente de se punir. E, ah, como demoramos pra entender isso.
Conversando com o Rafael, 29 anos, professor de biologia e ativista do movimento corpo-livre, ele me contou que começou a controlar a pressão arterial quando criou coragem de ir ao cardiologista sem se encolher na cadeira. Ele sabia que seria julgado por estar “acima do peso apropriado”, mas resolveu ir munido de amor-próprio – e de argumentos sobre gordofobia médica.
A consulta não foi fácil. Mas ele saiu de lá com acompanhamento adequado, não invasivo e, o mais importante, com um plano de saúde personalizado que respeitava sua autonomia e seu tempo.
O cuidado afetivo como ato de resistência
Optar por cuidar de si fora do padrão é quase um ato político. É dizer em alto e bom som: “meu corpo não é um problema a ser resolvido, mas uma casa a ser habitada com afeto e compromisso”.
Isso não exclui a busca por mudanças. Mas inclui olhar com mais generosidade para os próprios processos. Comer de forma consciente sem culpa, movimentar-se porque o corpo sente vontade, e não obrigação. Dormir bem, tomar água, rir alto, dançar sem camisa na sala de casa.
O que pode significar esse cuidado, na prática?
- Encontrar profissionais da saúde que enxerguem você além do peso.
- Fazer exames de rotina com regularidade, sem medo de sermos tratados com descaso.
- Buscar movimentos corporais prazerosos – dança, yoga, corrida, natação, o que fizer sentido.
- Fazer as pazes com a alimentação: nem terrorismo nutricional, nem compulsão emocional.
- Criar redes de apoio, online ou presenciais, com pessoas que também estejam nesse processo.
Vamos falar sobre isso com carinho (e coragem)?
Se você leu até aqui e se enxergou nessas linhas, saiba que você não está sozinha – nem errado, nem atrasado. Seu tempo é seu. E o seu corpo, também.
Eu, Cláudia Regina, sigo aqui, ouvindo histórias de quem resolveu escutar o que o próprio corpo tentava dizer há tempos: que existe vida, saúde e dignidade fora do padrão. Que é possível buscar leveza sem se mutilar por dentro. Que chorar diante do espelho pode virar sorrir na frente dele. E que ninguém precisa se encaixar pra caber no mundo – o mundo é que precisa aprender a alargar suas medidas.
Então, minha amiga, meu amigo, meu amigue: chega de silenciar. Vamos fazer barulho com nossos corpos, nossos passos e nossos afetos. Com orgulho. Com afeto. E com esperança. Porque cuidar da gente é, também, um jeito lindo de amar o mundo.
Com carinho e resistência,
Cláudia Regina dos Santos
Editora da editoria Histórias Reais e Reportagens Humanizadas – SlimUp
Deixe um comentário