Emagrecer sem dieta da moda: a história de superação de um grupo de mulheres de Ilhéus
Emagrecer sem dieta da moda: a história de superação de um grupo de mulheres de Ilhéus
Se você acha que para emagrecer é preciso viver à base de salada e passar fome seguindo aquela dieta da moda com nome estrangeiro difícil de pronunciar, deixa eu te contar uma história real, com cheiro de mar e sabor de afeto. Em Ilhéus, cidade do litoral da Bahia famosa pelo cacau e pelas novelas do Jorge Amado, um grupo de mulheres decidiu fazer diferente. Elas deixaram as promessas milagrosas de lado e se apoiaram umas nas outras para reconquistar a saúde e o bem-estar. Tudo isso sem fórmulas mágicas, sem julgamentos e, sobretudo, sem sofrimento.
Eu sou Cláudia Regina dos Santos, jornalista, mulher preta, baiana raiz e especialista em reportagens com alma. Se tem uma coisa que me emociona, é ver a potência feminina florescendo onde antes morava a dor. Vem comigo conhecer essa história que vai te inspirar a repensar o que realmente importa quando se fala em emagrecimento.
O começo: o cansaço das dietas restritivas
Era uma tarde quente de março quando conheci Dona Nazaré, 59 anos, professora aposentada e líder do grupo que hoje conta com mais de 20 mulheres. “Eu já tinha tentado de tudo. Dieta da sopa, do shake, da lua… Cheguei a perder peso, mas sempre ganhava de novo. E o pior: vivia mal-humorada, cansada e com vergonha do meu próprio corpo”, contou ela, com aquele sotaque baiano que é quase uma canção.
Email recebido de uma vizinha falando sobre “alimentação consciente” acendeu uma centelha. Nazaré compartilhou o papo com as amigas de caminhada e, sem perceber, ali nascia o grupo Florescer, formado por mulheres entre 35 e 65 anos, todas moradoras dos bairros Pontal, Malhado e Hernani Sá.
O segredo? Não seguir segredo nenhum
Ao contrário do que os anúncios coloridos na internet prometem, o grupo não seguia uma cartilha rígida. “A gente começou a conversar sobre como a comida era parte da nossa história. Quantas vezes a gente come para anestesiar a dor? Ou para celebrar, mesmo que não haja o que comemorar?”, explica Jéssica, psicóloga e uma das participantes mais ativas do grupo.
As reuniões aconteciam semanalmente na varanda da casa de Nazaré, com roda de conversa, troca de receitas e escuta acolhedora. Aos poucos, outras profissionais foram se somando, como nutricionistas, fisioterapeutas e até uma diarista que virou referência por suas receitas simples e equilibradas.
Eles escolheram um caminho baseado em três pilares:
- Conexão com o corpo: entender os sinais de fome e saciedade.
- Movimento com leveza: caminhadas ao ar livre, dança e alongamento comunitário.
- Reconciliação com a alimentação: alimentos de verdade, sem terrorismo nutricional.
“A gente aprendeu que o problema não é o pão, é o exagero. E que não é fraqueza comer brigadeiro, é só humano”, ri Nazaré. O humor, aliás, é um tempero fundamental dessa jornada. Elas se apelidaram de “gordinhas conscientes” como forma de resgatar o amor-próprio com leveza e verdade.
Mudanças que vão além da balança
Ao longo de dez meses, o grupo Florescer viu não apenas a queda dos números na balança (média de 6 a 10 kg por participante), mas o aumento da autoestima, da energia e do pertencimento. “Antes eu me escondia nas fotos de família. Hoje, sou a primeira a fazer selfie na praia”, contou Simone, 42 anos e mãe solo de gêmeos.
As participantes afirmam que o maior ganho não foi estético, mas emocional. Algumas conseguiram controlar quadros de hipertensão e pré-diabetes, outras voltaram a dormir melhor ou retomaram projetos antigos, como abrir um pequeno negócio de marmitas saudáveis com “sabor de casa”.
Depoimentos que aquecem o coração:
- “Eu sempre achei que fosse preguiçosa. Descobri que só me faltava acolhimento.” — Rosa, 38 anos
- “Perdi peso, mas ganhei amigas para a vida.” — Marina, 53 anos
- “Antes era um ciclo de culpa. Agora é um ciclo de cuidado.” — Ivoneide, 61 anos
O papel da escuta ativa e do apoio entre mulheres
O sucesso do grupo está diretamente ligado à criação de um ambiente seguro, sem julgamentos, onde todas podem se expressar. Aqui, ninguém manda na outra. Todas aprendem juntas. Essa horizontalidade faz com que o emagrecimento deixe de ser um castigo e passe a ser consequência.
“A gente tem uma cultura que ensina a mulher a odiar seu corpo desde cedo. O que fizemos foi aprender a escutar ele de novo, com amor”, diz Jéssica. O grupo também promove rodas temáticas sobre sexualidade, envelhecimento, maternidade tardia e alimentação tradicional — temas que ligam corpo e história pessoal, e ajudam a reconstruir a relação com a comida de forma mais saudável.
Por que essa história importa para você
No mundo onde o imediatismo reina, histórias como a do grupo Florescer nos lembram que emagrecer não é uma corrida de 100 metros, mas uma longa caminhada de reconexão consigo. E que essa jornada fica muito mais leve quando feita com companhia, escuta e afeto.
Além disso, essa experiência mostra que nem toda transformação precisa vir de fora. Às vezes, ela começa ali mesmo, na casa da vizinha, com um café passado e uma conversa sobre como estamos nos sentindo.
Lições que o grupo Florescer nos deixa
- Fuja das promessas radicais. Se a dieta parece mais uma tortura do que um estilo de vida, repense.
- Comida não é inimiga. É cultura, afeto, memória e sustento do corpo.
- Movimente-se de forma prazerosa. Dançar é tão saudável quanto musculação.
- Procure apoio verdadeiro. Sozinha é difícil, mas acompanhada é possível — e muito mais gostoso.
- Escute o seu corpo. Ele sabe o caminho de volta para o equilíbrio. Só precisa de atenção e respeito.
Conclusão: a revolução começa no quintal
O grupo Florescer segue ativo, agora também com uma página de rede social e planos de transformar o projeto em uma ONG local. “A nossa luta é para que mulheres entendam que cuidar de si não é luxo, é urgência”, conclui Nazaré, com os olhos brilhando de força e ternura.
Essa história é uma entre tantas que se escondem pelos bairros do Brasil, longe dos holofotes, mas cheias de verdade. E se você leu até aqui, talvez esteja sentindo o chamado de florescer também. Eu, Cláudia Regina, fico na torcida. Porque nenhuma mulher merece viver com culpa por causa da comida. O que todas nós merecemos é nos sentirmos livres, saudáveis e vivas — do nosso próprio jeito.
Até o próximo encontro, minha flor. E lembre-se: o seu corpo é sua casa. Que tal morar nele com mais carinho?
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