‘Fui emagrecendo minha vida’: histórias de quem largou peso e também relações tóxicas

Fui emagrecendo minha vida: histórias de quem largou peso e também relações tóxicas

Tem gente que acha que emagrecer tem a ver só com balança. Com números, medidas e, claro, com o tamanho da calça jeans. Mas eu gosto de ver de outro jeito. Emagrecer também é um ato de coragem, de despedida… e, muitas vezes, de recomeço. Emagrecer é deixar ir – inclusive aquilo que pesa mais na alma do que no corpo.

Nessa reportagem, trago um mosaico de histórias reais. Gente como a gente, que decidiu não só mudar o corpo, mas principalmente rever relações, padrões e amarras. Aquelas pessoas que, ao reduzir o número na balança, perceberam que o que realmente pesava… não era a gordura.

O peso vem de muitos lugares

Antes de apresentar cada uma dessas mulheres incríveis, quero te contar uma coisa que sempre repito nos meus grupos de apoio: o excesso de peso nem sempre vem de comida. Às vezes, ele vem de privações afetivas, de correr atrás de aprovação, de aguentar relações abusivas só “pra não ficar sozinha”.

Emagrecer, nesse contexto, se torna um processo muito mais profundo. É ir soltando camadas: da balança, sim, mas também da culpa, do medo, do passado – e, sobretudo, de gente que não acrescenta nada. Se você já passou por isso, vai reconhecer cada linha. E se ainda não passou, talvez aqui esteja o empurrãozinho que você precisava.

Luciane: “Perdi 30kg e um marido narcisista”

Luciane tem 42 anos e mora em Ribeirão Preto. Quando chegou aos 110kg, ela diz que não aguentava mais ouvir perguntas do tipo: “Você vai comer isso tudo?” ou “E a academia, já tentou?”. Só que o maior julgamento que sofria não vinha de fora – vinha de dentro de casa.

“Meu ex dizia que ninguém me olharia se ele me deixasse. Que eu devia agradecer por ele ainda me querer ‘daquele jeito’”, conta Luciane. “Tinha dias que eu comia escondido, só pra não ouvir críticas. A comida era meu consolo.”

Foi quando um dia, olhando no espelho, se pegou dizendo baixinho: “Chega.” Bastou essa palavra. Luciane começou na caminhada, depois na musculação, e logo veio a reeducação alimentar. “Mas a maior mudança foi perceber que o meu corpo não precisava ser aceito por ninguém além de mim. Quando ele percebeu que eu tava diferente – mais confiante, mais bonita, mais firme – começou a perder o controle.”

Hoje, 30kg mais leve e solteira, Luciane comemora: “O peso que eu sentia de verdade era o dele. Tô livre. E nada pesa mais do que amar alguém que só te diminui.”

Thalita: “Quando parei de agradar, emagreci 15kg”

Thalita tem 29 anos, é professora e nos contou que sempre foi a “boazinha” da família. Aquela que cede, que diz sim, que ajuda todo mundo – mesmo quando estava exausta. “A comida sempre foi meu escape. Um bolo no fim do dia, um hambúrguer no sábado, um chocolate escondido na segunda. Era meu agradinho, já que ninguém mais me tratava com esse carinho.”

Foi na terapia que ela entendeu: viver querendo agradar todo mundo é uma dieta sem fim, mas de autoestima. “Eu me negligenciava, me abandonava. Só queria ser amada. O peso veio junto com essa vontade de aceitação.”

Ao mudar a forma de se relacionar consigo mesma e com os outros, Thalita naturalmente começou a rearrumar a vida: menos festas que não queria ir, menos favores forçados, menos sim automático. E, sem perceber, veio o emagrecimento gradual.

“Em seis meses, perdi 15kg. Mais do que isso, ganhei respeito – primeiro o meu, depois o dos outros.”

Emagrecer a vida é diferente de emagrecer o corpo

Há uma ilusão muito comum em jornadas de emagrecimento: acreditar que mudar o corpo é mudar a vida. Mas nesse trabalho que desenvolvo há anos com grupos de acolhimento e empoderamento feminino, vejo que o caminho é o contrário. Quando mudamos a vida – nossos limites, nossa autoestima, nossas relações – o corpo responde. É um reflexo, e não o gatilho.

Emagrecer a vida significa se livrar de:

  • Relações que drenam sua energia
  • Amizades que zombam da sua mudança
  • Família que só te apoia quando você está de dieta ou dentro do padrão
  • Situações que te fazem comer por autopunição
  • Ambientes que te fazem sentir menor (até quando você estava maior)

Juliana: “Meu emagrecimento foi minha vingança – comigo mesma”

Juliana, 35 anos, diz que durante muito tempo quis “dar o troco” nas pessoas que a abandonaram por estar acima do peso. “Era um sonho entrar na balada e todos me olharem. Mostrar que agora eu sou a gostosa!”

Só que a grande virada veio num insight provocador: “Percebi que, se eu emagrecêssemos por eles, ainda estaria presa a eles. Ainda seriam eles que ditariam minha autoestima.”

Foi aí que Juliana decidiu emagrecer por si, com seus próprios termos. Fez terapia, encontrou sua voz, redirecionou sua alimentação e começou no pilates. “A maior vingança foi parar de querer vingança. Eu agora sou leal a mim.”

Como identificar se você está em uma relação que está te engordando?

Sei que esse termo pode parecer estranho, mas convido você a pensar comigo: existe gente que engorda nossa alma. Relações que adoecem, que esmagam sua autonomia, que te prendem em sentimentos de inadequação.

Alguns sinais:

  1. Você sente culpa ao cuidar de si, como se isso fosse egoísmo.
  2. Seu parceiro ou parceira zomba da sua dieta, do seu treino ou das suas escolhas saudáveis.
  3. Você come compulsivamente após discussões ou desentendimentos.
  4. A pessoa diz que você só terá valor se estiver mais magra.
  5. Você engordou significativamente desde que entrou na relação.

Se identificou? Então talvez seja hora de reavaliar. Nem sempre a dieta precisa mudar. Às vezes, é o relacionamento que precisa ser cortado do cardápio.

Emagrecer, para mim, é um ato de amor

Eu, Cláudia Regina dos Santos, já pesei 118kg. Já me escondi em roupas largas, em relacionamentos terríveis e em silêncios que gritavam. Hoje, com 68kg e uma vida inteira leve — inclusive no afeto — te digo com todas as letras: emagrecer não é sobre caber em um número. É sobre se libertar de tudo que não te serve mais.

Então, a próxima vez que alguém te perguntar quanto emagreceu, responda com orgulho: “Uns 20kg… e mais uns 100 em formas não mensuráveis. Gente, culpas, dúvidas, mágoas. Tudo isso ficou pra trás.”

E você? Está pronta para emagrecer a vida também?

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Author: Cláudia Regina dos Santos
Jornalista investigativa com mais de 20 anos de atuação, especializada em saúde e alimentação. Com estilo empático e engajado, destaca questões sociais e estruturais, especialmente ligadas à população negra e periférica. Usa linguagem próxima e acessível para humanizar dados e estatísticas.

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