‘Meu emagrecimento começou no divã’: como a saúde mental puxou o fio da mudança física

“Meu emagrecimento começou no divã”: como a saúde mental puxou o fio da mudança física

Você provavelmente já ouviu aquela frase batida “mente sã, corpo são”. Mas a questão é que a gente ouve tanto que para de escutar. Eu mesma achava que era só um chavão de autoajuda. Até que um dia, percebi: minha compulsão alimentar não morava na geladeira. Ela estava quietinha, camuflada nos recantos da minha mente. E foi ali, no divã da minha terapeuta — e não na esteira da academia — que eu dei o primeiro passo rumo ao meu emagrecimento.

Quem sou eu nessa história?

Me chamo Cláudia Regina dos Santos, tenho 42 anos e venho de uma longa linhagem de mulheres que fazem dieta desde os tempos do “chá de boldo com sal amargo”. Cresci ouvindo que era só “fechar a boca e correr atrás”. Mas eu tentava — juro que tentava — e sempre acabava no mesmo ciclo: restrição, frustração, compulsão e mais culpa para jogar na mochila emocional. Até que um dia cansei de correr atrás. Resolvi parar. E sentar no divã.

O peso que eu carregava não era só físico

Quando procurei terapia, não foi com o objetivo de emagrecer. Meu casamento estava por um fio, meu trabalho me consumia, e eu vivia anestesiada em comida e Netflix. Minha terapeuta, com sua xícara de chá de camomila e olhar acolhedor, perguntou: “O que você está tentando anestesiar quando come?” Essa pergunta me pegou de jeito. Nunca tinha pensado nisso. Comida era apenas comida… ou era?

Descobri que minha relação com a comida era emocional desde muito cedo. Lembrei de quando minha mãe me dava um biscoito para eu parar de chorar. Ou quando minha avó fazia doce de leite como forma de carinho. A comida foi minha maneira de lidar com ausências, medos, cobranças e silêncios. Enquanto o mundo exigia que eu fosse forte, doce, competente e leve — lá estava eu, mastigando o que não conseguia digerir emocionalmente.

A virada: das emoções à ação

Durante meses na terapia, falei, chorei, me escutei como nunca antes. Um dia, reparei que fazia semanas que não tinha um episódio de compulsão. Percebi que, quando comecei a cuidar da minha saúde mental, meu corpo foi junto. Comecei a prestar atenção em mim. Me alimentar com mais presença. Não por obrigação, mas por respeito. Não por culpa, mas por cuidado.

Não foi um plano mirabolante. Foi aprendizado. Como toda mudança real, veio no ritmo do possível. Ao invés de “dieta da moda”, comecei a:

  • Entender meus gatilhos emocionais
  • Aprender sobre fome física x fome emocional
  • Pedir ajuda (nutricionista, sim, com muito amor!)
  • Respeitar o ritmo do meu corpo
  • Celebrar cada pequena vitória

Desconstruindo o corpo ideal: o que emagrecer realmente significou

Nesse processo, precisei dar adeus a ideias que me feriam silenciosamente. A primeira foi a do “corpo ideal”. Quem estipulou que ele deve pesar X quilos ou caber no manequim 38? Emagrecer, para mim, não foi me encaixar. Foi me ver de verdade. E me libertar da versão que eu criei para agradar os outros.

Antes, eu ficava obcecada com o número na balança. Hoje, meu termômetro é outro: meu nível de energia, meu humor, minha disposição para viver. Descobri que emagrecer não é um destino final, mas uma estrada cheia de curvas, bifurcações e, às vezes, uma parada estratégica para respirar.

A beleza da vulnerabilidade

Foi no divã — entre lágrimas, silêncios constrangedores e muitos “nossa, nunca tinha pensado nisso” — que encontrei minha força. E também minha fragilidade. A verdade é que ninguém ensina a gente a sentir. A gente aprende a esconder. Fingir que está tudo bem e seguir comendo emoções disfarçadas de sonho de padaria.

Se eu pudesse deixar uma mensagem para quem está nessa jornada, seria:

  1. Procure ajuda profissional — saúde mental não se resolve na força de vontade
  2. Respeite sua história — ela é sua, única, preciosa
  3. Cuide de suas emoções antes de querer mudar seu corpo
  4. Pare de se punir — alimentação não é castigo, é cuidado
  5. E o mais importante: abrace o processo

Existe cura? Existe fim?

Muita gente me pergunta: “E agora, você venceu a luta contra a balança?” E eu sempre respondo com carinho e um sorrisinho irônico: “Aprendi que não é uma guerra.” Não há inimigo. Há uma mulher aqui, imperfeita, que aprendeu a gostar de si mesma, que ainda lida com uma ou outra escapada na geladeira, mas que já não usa mais comida como abraço. Agora, ela mesma se abraça.

Então não, não venci. Mas hoje, vivo em paz. E essa paz vale mais do que qualquer quilo perdido.

Conclusão: quando a cabeça emagrece, o corpo acompanha

Se você veio até aqui esperando uma fórmula mágica, desculpe desapontar. Mas espero ter te entregado algo melhor: minha verdade. Porque às vezes, o que a gente precisa não é de uma nova dieta, e sim de um novo olhar. Um olhar mais generoso para si mesma. Um olhar que começa dentro — bem lá no fundo — e que, com o tempo, reflete por fora.

Então, se você está cansada de começar mais uma dieta na segunda-feira, talvez seja hora de começar algo diferente: um mergulho no seu emocional. Quem sabe o fio da mudança física não puxe também outras transformações que estavam esperando há anos?

Talvez, como eu, você descubra que seu emagrecimento começa no lugar mais improvável — o divã.

Publication date:
Author: Cláudia Regina dos Santos
Jornalista investigativa com mais de 20 anos de atuação, especializada em saúde e alimentação. Com estilo empático e engajado, destaca questões sociais e estruturais, especialmente ligadas à população negra e periférica. Usa linguagem próxima e acessível para humanizar dados e estatísticas.

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