Voltei do banco de reserva pro time: como emagrecer salvou o joelho e a autoestima de um ex-jogador amador
Voltei do banco de reserva pro time: como emagrecer salvou o joelho e a autoestima de um ex-jogador amador
Quem escuta o acento nordestino do Djalma Pereira, 44 anos, até pensa que ele vai puxar um repente — mas o que ele solta mesmo é uma gargalhada gostosa daquelas que preenchem o ambiente. Esse pernambucano de bom humor fácil teve a vida virada do avesso quando o joelho esquerdo resolveu “pedir as contas”. E foi com coragem, reeducação alimentar e muito suor que ele recuperou a saúde, 23 quilos e o título autoimposto de “craque da pelada de domingo”.
Nessa reportagem humanizada, trago uma história que vai além da balança e do espelho. É sobre dor, superação, reencontro com a própria essência — e, claro, football, que aqui se escreve com “u” porque é paixão de raiz. Senta aí, porque a jornada do Djalma merece ser contada como ele merece: com respeito, leveza e aquele toque de emoção que só as verdades da vida têm.
O joelho que gritou antes do apito
Djalma tinha seus 35 anos quando largou de vez o campeonato amador da Zona Norte do Recife. O peso extra que foi ganhando com a vida adulta — casado, dois filhos, expediente dobrado como porteiro em condomínio — foi apertando a articulação. Mas em vez de ouvir o corpo, ele silenciava a dor com analgésico, água gelada e um “dá pra mais um tempo”.
“Parecia que o joelho ia se desmanchar toda vez que eu corria. Fiquei com medo de uma cirurgia. Parei antes que parassem por mim”, lembra ele, já sem aquele olhar inseguro de quem se olhava no espelho e não reconhecia mais o camisa 7 de antes.
Com 1,74 m e 98 kg, Djalma foi progressivamente se afastando dos campos. Os convites da turma do futebol, que antes vinham todo domingo, rarearam. A autoestima também. “Cheguei a pensar que minha história no futebol tinha acabado. Muita gente não entende que quando você vive o futebol mesmo só de fim de semana, aquilo faz parte do seu coração.”
Emagrecer não era vaidade, era reinvenção
Tudo começou a mudar durante a pandemia, quando o sedentarismo e a ansiedade aumentaram, e Djalma chegou aos 104 kg. O susto veio durante uma ida ao ortopedista: a cartilagem do joelho esquerdo estava quase ausente. Com sorte, evitaria a prótese; com disciplina, poderia até voltar a jogar em ritmo leve.
“O doutor não foi de muito papo: se eu não emagrecesse, em dois anos já estava andando arrastado”, conta ele, segurando as lágrimas que já escorreram muito em silêncio.
Foi nessa época que ele descobriu uma nutricionista no Instagram — simples, direta, com dicas práticas para homens que queriam emagrecer sem “frescuras”. Começou trocando o refrigerante por água com limão, depois deixou os doces da semana só pro sábado. Do tapiocão da manhã passou pra uma colher de chia com iogurte natural. Cada mudança era uma vitória.
Reeducação alimentar, passo a passo
Djalma não seguiu dieta radical, muito menos cortou carboidrato. Adotou o que ele chama de “o cardápio da consciência”. Veja algumas mudanças simples que ele compartilha com orgulho:
- Trocar o pão francês por cuscuz com ovo mexido
- Reduzir refrigerante para 1 vez por semana e depois eliminar
- Comer mais frutas no lugar de biscoitos recheados
- Passar a cozinhar sua própria comida pra entender os ingredientes
- Ler os rótulos dos alimentos (hoje, ele é craque nisso!)
“Muita gente acha que é só começar academia. Nada disso. O primeiro músculo que tem que pensar é a sua cabeça”, diz ele, que perdeu os primeiros 8 kg só mudando alimentação. O restante veio com caminhada leve e exercícios de fisioterapia.
Do sofá para a lateral do campo — e de volta ao gol
Com 81 kg e uma nova postura diante da vida, Djalma voltou a frequentar as arquibancadas onde os filhos jogavam. Foi numa tarde abafada, assistindo o mais novo num jogo do sub-15, que escutou do técnico: “O senhor que é o pai do Djalminha? Ele diz que o senhor jogava mais do que ele.”
A conexão acendeu de novo. Pouco tempo depois, topou o convite de um amigo do trabalho pra participar de uma pelada leve, “só toque de bola”. O joelho protestou, claro, mas a alma comemorou em silêncio. O retorno ao campo foi tático: não corria o tempo todo, evitava choque, jogava mais parado — mas dentro dele algo disparou.
“Voltar a jogar me fez recuperar a autoestima. Eu não queria ser o mesmo de antes, queria ser o melhor que dava pra ser agora”, afirma, com aquele brilho nos olhos reservado às paixões eternas.
Estatísticas de um renascimento
Hoje, com 44 anos, Djalma mantém o peso entre 80 e 82 kg. Seu cardápio não tem mistério, sua rotina inclui quatro caminhadas de 40 minutos por semana, além de exercícios específicos de fortalecimento para o joelho. Também mantém acompanhamento anual com ortopedista e a nutricionista virou amiga da família.
Mas mais importante que os números da balança são os da alegria:
- 5 peladas mensais no time da igreja
- 1 campeonato amador por trimestre
- 3 gols marcados só neste semestre
- 0 crises de autoestima ou dores incapacitantes
A esposa, Dona Eliane, resume bem a transformação: “Djalma voltou pra gente. Ele era bom marido, bom pai. Mas agora tá completo de novo.”
Quando emagrecer é sobre se reconhecer
Essa história vai além de medidas ou do joelho sarado. Trata-se de pertencimento. Para Djalma, emagrecer não foi punição, foi reintegração com quem ele sabia que poderia ser.
“Não é sobre caber na roupa. É sobre caber no sonho que você não quer enterrar antes da hora”, dispara, com a sabedoria de quem sabe que corpo, mente e coração jogam juntos nessa partida da vida.
De ex-jogador a exemplo
Djalma não se considera um influencer digital, mas hoje fala sobre alimentação saudável, retomada esportiva e amor-próprio nos grupos de WhatsApp da empresa e da igreja. Alguns colegas já começaram seus próprios processos de emagrecimento inspirados nele — e ele responde tudo com carinho e paciência.
“Se eu puder ajudar mais gente a sair do banco de reserva da própria vida, já valeu mais do que qualquer gol que eu já fiz”, finaliza, batendo a mão no peito como quem agradece — a si mesmo, ao joelho e à coragem de recomeçar.
Djalma voltou. Não pro campeonato da TV nem pra coluna das celebridades. Mas pra sua própria narrativa de homem, pai, apaixonado pelo que faz. E isso, amigo, é gol de placa.
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